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segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Gre-Nal que se preze não tem Fair Play

Gre-Nal que se preze nunca é jogado por laranjas, como décadas atrás os vespertinos esportivos de então chamavam aqueles clássicos de hexagonal final de Gauchão já decididos a favor de uma das partes. Naqueles anos, o Gauchão terminava quase que obrigatoriamente em Gre-Nal. Algumas vezes não valeu nada. Mas, na verdade, sempre valeu. Sempre.

Não existe competição em que Inter ou Grêmio participem que não valha nada. Jogo de futebol de prego? Tá valendo. Apesar dos desdenhosos comentários feitos por diversos clubes à Sul-Americana, torneio descendente da inferior Copa Conmebol, uma série C da Libertadores, e da SuperCopa, torneio mui valorizado pelas bandas da Azenha quando não existia outro para disputar e em que constantemente apanhavam de laço de qualquer Argentino Juniors que pintasse pelo caminho, a verdade é que a Sul-Americana vale sim. Vale prestígio. Vale dinheiro. Vale vencer algo que o adversário não possui. Sempre vale. Ainda mais com um Gre-Nal.

E mesmo que valesse, Gre-Nal vale a segunda-feira, no caso de hoje, a sexta-feira e um fim de semana mais relaxado. Gre-Nal vale a felicidade momentânea em subjugar o adversário. Não interessa se com gol irregular aos 48 do segundo tempo. Com gol de bunda. Com frango do goleiro a la Taffarel entregando a beterraba para o "craque" Jorge Veras. Não interessa se com fuga do xixi. Não quero nem saber se a goleada foi com os reservas nos gols do Leandro Narigão. Se a vitória veio em defesas de penalidades nas mãos do nosso tenebroso Gato Fernandez. Vitória em Gre-Nal sempre é a maior das vitórias. Eliminar o rival, a maior das glórias. O destino nos reservou que nosso e maior título inédito nos Pampas fosse conquistado em cima de um dos mais emblemáticos ídolos de nossos rivais. Lágrimas dentuças de Ronaldinho em Yokohama. Certamente, o Mundial foi um Gre-Nal.

O maior estádio do sul do Brasil nasceu de um Gre-Nal. Foi da inauguração do então estádio sem coberturas, depois remendado na gestão Hélio Dourado – sim, a rivalidade me faz conhecer a história de meus amados inimigos –, que nasceu a idéia de construir um estádio maior e mais bonito.
Foi de lá que nasceu um Gigante. De um Gre-Nal de 6x2 na cola com o goleiro tricolor chorando pela humilhação imposta. Pois também os ídolos fogem das goleadas humilhantes tal como um Danrley pedindo pra sair em um 5x2 conquistado pelo hoje incensado Celso Roth. O Gre-Nal é um paradoxo. Tudo nele inicia. Tudo nele termina. Não vivemos sem um Gre-Nal para nos dividir e unir na desgraça fugaz ou na glória catártica.

Sim, Guiñazu. Tu pegaste bem o que é um Gre-Nal. Já esteve lá dentro. Sabe que deve ser pegado. Do início ao fim. Que em Gre-Nal devem ser esquecidas as carioquices do futebol nacional. Que os muricys chorem de dor do lado de fora. Gre-Nal foi feito para Figueroas, Carlitos e Fernandões. O Gre-Nal mata ídolos. Eleva às alturas gloriosas nulidades técnicas. Gre-Nal se joga sangrando. Se joga com fratura exposta. Abaixo de chuva. De neve falsa de portoalegrense. Gre-Nal se joga como deve ser jogado, Guiñazu. Como tu joga. A morrer. Se o futuro da humanidade gaúcha, uma humanidade à parte, com todas suas idiossincrasias e idiotices próprias, fosse decidido amanhã, Pablo, certamente seria decidido num Gre-Nal. Sim, Guiña, o Gre-Nal é uma batalha. E batalha que se preze não tem Fair Play.

(publicado originalmente em 28/08/2008 em à Sombra dos Eucaliptos)

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