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sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Seriedade ou morte

Baixar a bola é o atual dever cívico de todo colorado.

Nadar contra a maré do oba-oba, temer o pior, admitir que o Inter carrega um caminhão de vulnerabilidades em posições-chave – zaga, lateral direita e ataque. Tudo isso deveria estar na boca do estômago de cada colorado, vivo e pulsante como um panelão de mocotó.

Mas não é o que acontece. Para a grande maioria dos colorados, o bi das Américas já é do Inter. Abel Braga considera a vantagem colorada "irreversível". Comentaristas conhecidos, mesmo dando as devidas ressalvas de que o "futebol é uma caixinha de surpresas", apostam até em goleada dentro do Beira Rio. E assim estamos nós agora: achamos que o jogo da próxima quarta será meramente protocolar. Um inconveniente de 90 minutos até a entrega da taça às mãos de Bolívar.

Não sei se alguém já percebeu o quão traiçoeiro pode ser esse clima de já-ganhou. Historicamente, o Inter sempre tropeçou nos momentos em que a vitória era mais do que óbvia. Não vou relembrar agora esses momentos de infortúnio, porque também não cabe fazer terra-arrasada. Mas cada colorado com pouco mais de 20 anos sabe do que estou falando. Não são poucos os gritos de "É Campeão" que já ficaram presos em nossas gargantas.

O Chivas é um adversário diferente. Jamais foi ruim: é tão-somente diferente. Os mexicanos deixam jogar. Dão espaços, deixam chutar, permitem que o adversário tenha a nítida sensação de estar com o "controle de jogo". Mas essa aparente fraqueza pode ser também uma das características mais traiçoeiras do Chivas.

Luís Felipe do Santos, em uma excelente crônica no blog Impedimento (leia aqui), analisou o histórico do Chivas e notou que, no desenrolar do jogo, o adversário amolece diante da complacência mexicana. Perde o elã da pressão. Relaxa e se desconcentra. E, como aconteceu com o Inter, permite que o Chivas marque seus gols em jogadas aparentemente inofensivas e em momentos improváveis.

Ora, e se isso acontecer no Beira Rio? E se algo der errado? O que acontecerá se levarmos um gol em uma jogada aparentemente inofensiva, em um momento improvável – sei lá, aos 43 minutos do segundo tempo?

Ontem, diante da eliminação do Grêmio na Sulamericana, não foram poucos os colorados que agiram como se já fossem campeões. O Twitter nos trouxe um cardápio extenso de galhofa assoberbada. Houve quem dissesse que estava torcendo para o Grêmio para que tivéssemos "Gre-Nal na Recopa de 2011". O que ninguém percebeu é que a Recopa ainda depende de um jogo essencial. Não quero nem imaginar o tamanho da munição que os gremistas têm nas mãos, nesse momento, para o caso de insucesso colorado na próxima quarta.

Mas sim, eu confio no título. Quero muito ganhá-lo. Chegar ao bi das Américas será aquele sonho nunca sonhado. Era algo que, na minha infância, eu imaginava como algo até idiota de se querer – tal como ganhar na Mega-Sena ou adquirir os poderes do Superman. Mas aí estamos agora, prestes a conquistar a Libertadores pela segunda vez. E nada pode ser mais aterrorizante do que ver um sonho deste tamanho prestes a ser jogado fora por pura falta de seriedade.

3 comentários:

Fábio R. disse...

Não precisa ir muito longe, Andreas. Basta lembrar de um evento não muito distante: a final da Sulamericana 2008. Muita semelhança com este momento de agora. Tínhamos 1 gol de vantagem, conquistado fora de casa e dentro de casa o adversário fez 1x0, algo improvável pelo clima na semana entre os jogos. Dependemos, no fim, de um gol chorado de Nilmar para não ir pra decisão na cal.

Muito cuidado com a soberba. Isso, geralmente, fica pro lado da Av. Carlos Barbosa, não da Padre Cacique.

Alexandre R. disse...

Perfeito. Chupa Nelson e lambe Alemão.

Marcus Rovere disse...

Excelente texto, como eu disse hoje: Pés no Chão = Taça na Mão = Pés no Chão